sábado, 22 de outubro de 2011

MENINO TRISTE

MENINO TRISTE
(DORA INCONTRI)

Que queres, menino triste?
que me paras no farol?
Que sonho escuro que viste,
Pois teus olhos não têm sol?

Tua madrasta é a rua,
com seu cimento gelado.
E de noite, nem a lua
te dá um olhar de trocado…

Quem te largou neste mundo,
para catares esmola?
Se roubas, és vagabundo…
Mas quem te roubou a escola?

E quem te arrancou da mão
um brinquedo e uma esperança?
Quem te tirou, sem perdão,
o direito a ser criança?

Tua escola é a calçada,
que freqüentas todo em trapos.
Se o dia não rende nada,
logo apanhas uns sopapos.

Menino, no olhar me imploras
muito mais do que um favor.
Querias que tuas horas
fossem preenchidas de amor!

Mas o que vês são os carros!
Passam depressa, sem dó.
Os sorrisos te são raros.
O Brasil te deixa só.

Minha poesia já chora:
os meninos são milhões.
Será que o povo de agora
perdeu os seus corações?

Vá correndo, minha Musa
pedir ao homem tão duro,
que das riquezas abusa,
que reparta seu futuro!

Poderá haver perdão,
dizei-me vós, Senhor Deus,
para a megera nação
que assim trata os filhos seus?

E a Musa conclama alto,
com resquícios de esperança:
Brasil, não jogues no asfalto
A alma de uma criança!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Mâe Lavadeira

MÃE LAVADEIRA

.
Mírian Warttusch

Fechei os olhos, ouvindo o som do bate...bate...
E enquanto eu ainda dormia, tão quentinho,
Minha mãe já há horas enfrentava o tanque,
“Será que eu merecia ficar recolhidinho?”

Levantei depressa e resolvi que a minha mãe
Estava muito cansada de tanto trabalhar
E de fininho, fui saindo pelas ruas da favela
E cheguei à cidade resolvido a mendigar...

Estendi minha mãozinha suja de poeira,
Meus pés descalços doíam de tanto caminhar...
Alguns passavam, sem nem pra mim olhar,

Mas outros tiveram pena e na minha mãozinha,
Colocaram, sim, uma pequena moedinha...
Que levei correndo para minha mãe, a lavadeira!