sexta-feira, 30 de setembro de 2011

AULA DE LEITURA

Ricardo de Azevedo

A LEITURA É MUITO MAIS
DO QUE DECIFRAR PALAVRAS.
QUEM QUISER PARAR PRA VER
PODE ATÉ SE SURPREENDER.

VAI LER NAS FOLHAS DO CHÃO,
SE É OUTONO OU SE É VERÃO.

NAS ONDAS SOLTAS DO MAR,
SE É HORA DE NAVEGAR;

E NO JEITO DA PESSOA,
SE TRABALHA OU SE É À-TOA;

NA CARA DO LUTADOR,
QUANDO ESTÁ SENTINDO DOR;

VAI LER NA CASA DE ALGÉM
O GOSTO QUE O DONO TEM;

E NO PELO DO CACHORRO,
SE É MELHOR GRITAR SOCORRO;

E NA CINZA DA FUMAÇA,
O TAMANHO DA DESGRAÇA;

E NO TOM QUE SOPRA O VENTO,
SE CORRE O BARCO OU VAI LENTO;

E TAMBÉM NA COR DA FRUTA,
E NO CHEIRO DA COMIDA,
E NO RONCO DO MOTOR,
E NOS DENTES DO CAVALO,

E NA PELE DA PESSOA,
E NO BRILHO DO SORRISO,

VAI LER NAS NUVENS DO CÉU,
VAI LER NA PALMA DA MÃO,

VAI LER ATÉ NAS ESTRELAS
E NO SOM DO CORAÇÃO.

UMA ARTE QUE DÁ MEDO
É A DE LER UM OLHAR;
POIS OS OLHOS TÊM SEGREDOS
DIFICEIS DE DECIFRAR

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

COR DA LÁGRIMA

COR DA LÁGRIMA

Por que a lágrima não tem cor?
Enquanto chorava, me pus a pensar.
Se fosse vermelha como sangue,
as minhas vestes poderiam manchar.

Se a lágrima fosse amarela,
a cor da alegria, expressar tristeza jamais poderia.

Se fosse azul,
a cor da serenidade,
eu não choraria jamais.
Seria só tranqüilidade.

Se fosse branca
como pétalas de rosas,
não seriam lágrimas...
Mas pérolas preciosas.

Ainda mais uma vez
fiquei me questionando...
Por que a lágrima não tem cor?
Se ela fosse preta,
só expressaria o horror?

Por que será que a lágrima não tem cor?
A lágrima não tem cor...
Porque nem sempre exprime dor.

E se ela fosse roxa, como poderia
expressar a alegria?

As lágrimas não têm cor
porque são expressões da alma.
Quando o espírito está chorando,
o coração diz: tenha calma!

Se a lágrima tivesse cor
deveria ter a cor do amor.
Ou mesmo a cor da paixão,
que as vezes invade o coração.

Ou talvez a cor da tristeza
que abala a alma e tira a calma,
mas faz em meu ser uma limpeza.

A lágrima não tem cor,
porque ela nos aproxima do nosso Criador.
Se a lágrima tivesse cor,
eu só iria chorar de alegria.

Mas, e a lágrima da saudade?
De que cor ela seria?
E a lágrima da decepção,
de que cor seria então?

Se a lágrima tivesse cor
deveria ter a cor de um brilhante.
Como a lágrima é preciosa,
Deus deu-lhe a cor do diamante.

Wayne W. Dyer

TREM DE FERRO

Manoel Bandeira


Café com pão

Café com pão

Café com pão

Virge Maria que foi isso maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
(trem de ferro, trem de ferro)

Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
Da ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô...
(café com pão é muito bom)

Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matar minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...

Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
(trem de ferro, trem de ferro)



A FONTE E A FLOR( cair das folhas)

Vicente de Carvalho

Deixa-me, fonte, dizia,
A flor, tonta de terror,
E a fonte, rápida e fria,
Cantava, levando a flor.

Deixa-me, deixa-me, fonte,
Dizia a flor, a chorar.
Eu fui nascida no monte,
Não me leves para o mar!

E a fonte, rápida e fria,
Com um sussurro zombador,
por sobre a areia corria,
Corria, levando a flor.

“Ai, balanços do meu galho,
Balanços do berço meu,
Ai, claras gotas de orvalho,
Caídas do azul do céu!”

“Carícias das brisas leves
Que abrem rasgões de luar,
Fonte, fonte, não me leves,
Não me leves para o mar!”

………

As correntezas da vida
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
Como a da fonte e da flor

O CAROÇO

Bastos Tigre

Eu comi ontem, no almoço,
A azeitona de uma empada,
E depois, botei o caroço
Sobre a toalha engomada.

Mas a mamãe logo nota
E me ensina com carinho:
”O caroço não se bota
Sobre a toalha, meu benzinho!...”

Tudo o que ela me diz, eu ouço,
Sempre com toda a atenção.
E pergunto-lhe: “O caroço,
Mamãe, onde boto, então?”

”Toda pessoa de linha,
De educação e de trato,
O osso, o caroço, a espinha,
Põe num cantinho do prato.”

Eu depressa lhe respondo,
Com respeitoso carinho:
”Mas meu prato é redondo,
Meu prato não tem cantinho!...”

O NINHO DO BEIJA-FLOR

O ninho do beija-flor

Walter Nieble de Freitas

No verde mar das ramagens
Da trepadeira florida,
Certo dia eu descobri
Preciosa jóia escondida.

Era um ninho e três ovinhos
De mimoso beija-flor
Linda conchinha com pérolas
Feita com arte e primor.

Na modéstia desse lar,
Construído com afeto,
Eu senti como era grande
O pequenino arquiteto!

Coisas assim,tão singelas,
Têm a magia, o condão
De mostrar toda a grandeza
Da Divina Criação.

O NINHO DO BEIJA-FLOR

O ninho do beija-flor

Walter Nieble de Freitas

No verde mar das ramagens
Da trepadeira florida,
Certo dia eu descobri
Preciosa jóia escondida.

Era um ninho e três ovinhos
De mimoso beija-flor
Linda conchinha com pérolas
Feita com arte e primor.

Na modéstia desse lar,
Construído com afeto,
Eu senti como era grande
O pequenino arquiteto!

Coisas assim,tão singelas,
Têm a magia, o condão
De mostrar toda a grandeza
Da Divina Criação.




MENINO LUXENTO

Tavi Pagano

Menino luxento,
Você quer empada?
_ Não, Mamãezinha,
Está muito salgada.

Menino luxento,
Você quer assado?
_ Não, mamãezinha,
Está muito tostado.

Menino Luxento,
Você quer salada?
_ Não, mamãezinha,
Está muito aguada.

Menino luxento,
Você quer pudim?
_ Não, mamãezinha,
Está muito ruim.

Menino luxento,
Você não quer nada?
Menino luxento,
pois tome palmada.


A ESTRELINHA

Martins d'Alvarez

Vejo à noite uma estrelinha
no céu, piscando, piscando...
Minha mãe diz que ela, de longe,
pisca, pisca, me chamando...

Quando eu crescer e papai
me comparar uma avião,
vou te buscar, estrelinha,
na palma da minha mão.



O PATINHO

Francisca Júlia

O pintainho do pato,
galante, amarelo e novo,
mal saiu da casca do ovo
busca as águas do regato.

Todo ele, tão lindo e louro,
enquanto nas águas boia,
tem a graça de uma joia
feita em ouro

Deus

Casimiro de Abreu

Eu me lembro! Eu me lembro! _ Era pequeno
E brincava na praia; o mar bramia,
E, erguendo o dorso altivo, sacudia,
A branca espuma para o céu sereno.

E eu disse a minha mãe nesse momento:
"Que dura orquestra! Que furor insano!
Que pode haver maior que o oceano
ou que seja mais forte que o vento?"

Minha mãe a sorrir, olhou pros céus
E respondeu: _ Um ser que nós não vemos,
É maior que o mar que nós tememos,
Mais forte que o tufão, meu filho,é Deus.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A BONECA

OLAVO BILAC.

Deixando a bola e a peteca,
Com que ainda a pouco brincavam
Por causa de uma boneca,
Duas meninas brigavam.

Dizia a primeira: é minha!
É minha! A outra gritava:
E nenhuma se continha,
Nem a boneca largava.

Quem mais sofria (coitada!)
Era a boneca. Já tinha
Toda a roupa estraçalhada,
E amarrotada a carinha.

Tanto puxaram por ela,
Que a pobre rasgou-se ao meio,
Perdendo a estopa amarela
que lhe formava o recheio.

E, ao fim de tanta fadiga,
Voltando à bola e à peteca,
Ambas, por causa da briga,
Ficaram sem a boneca...

MEUS OITO ANOS

Casimiro de Abreu

Oh! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!

Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez de mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta no peito,
_ Pés descalços, braços nus
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar mangas,
Brincava à beira mar
Rezava as Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

Oh! que saudades eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
_ Que amor, que sonho, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
à sombra das bananeiras
Debaixo das laranjeiras!